Descomplicando o Vinho

Por Alexandre Santucci (*)

O prazer é muito mais fácil, basta beber!

Por que uma das bebidas mais antigas do mundo, se transformou num hábito tão complicado? 
Muitas vezes tenho me feito esta pergunta nos últimos anos. E a resposta que obtenho de colegas não me convence!
Dizer que só os melhores vinhos são importados, não é mais verdade; os bons vinhos são os que mais envelhecem, igualmente não é verdade - alguns vinhos tintos excelentes ou a maioria dos brancos devem ser tomados jovens -; ou que para se entender de vinho requer uma vida também não é.

Então qual seria a solução ?– Descomplicar o que já nasceu descomplicado.
O vinho, milenar em seu surgimento, difícil de se saber claramente sua descoberta. É citado mais de uma centena de vezes na Bíblia, no Talmude e no Alcorão, era a bebida que acompanhava as grandes manifestações culturais, artísticas e religiosas. Quando se queria conter os ânimos dos festeiros se adicionava água, quando a festa era mais intima ou formal era servido na forma original.

Descoberto ao acaso ou criado por alguém o vinho é simples, feito a partir da fermentação alcoólica do suco de uvas frescas.

Devido a sua simplicidade, muitos produziam o próprio vinho e foi se incorporando ao dia-a-dia das famílias europeias. O fato é que com o avanço de conquistas, os Ingleses também incorporaram este hábito principalmente ao passarem por Bordeaux, uma pequena cidade francesa, berço da cultura dos grandes vinhos. Daí o que era genuinamente um acompanhamento alimentar, passou a ser um produto, e de grande valor comercial, visto que os ingleses nunca produziram vinho, mas levavam a todos os cantos onde havia colônia, para seu consumo e comercialização.

Aonde chegamos?

Vamos aos fatos: O Vinho de qualidade, como conhecemos hoje, é uma bebida que necessita cerca 90% de condições naturais para ser feito, portanto o homem contribui com algo em torno de 10% no resultado. Sendo assim o que ouvimos falar sobre os melhores vinhos do mundo tem muito mais haver com sua região que com o domínio das técnicas. Os vinhos de qualidade necessitam de condições de solo e climáticas que só são encontradas numa determinada faixa da terra. Nesta faixa se incluem países como, França, Itália, Espanha, Portugal, África do Sul, Nova Zelândia, Austrália, Estados Unidos, Chile, Argentina, Uruguai e Brasil. Porém, não é em toda sua extensão territorial que se consegue bons resultados, o que leva nesta lista, talvez só o Uruguai a produzir vinhos em quase todo o país. No entanto, não há dúvida que países como França e Itália tenham tanta importância neste mundo, o que os deixa a frente dos demais é a sua tradição e estas condições exemplares.

Beber um bom vinho requer pequenos cuidados, que seguidos transformam rapidamente um pesadelo em sonho!

Quem já não se viu numa situação embaraçosa, esperar alguém que bebe vinho, sem saber o que escolher, numa loja ou restaurante?

As dicas são simples: Normalmente o rótulo do vinho te dá 80% das informações necessárias. O restante? Bem, o restante... só bebendo.

Quanto aos 80%, são: origem do produto, se o tipo é branco, tinto, rosado, espumante, ou fortificado (porto), tipo de uva, graduação alcoólica, safra, produtor e principalmente o preço.

Bem, se vinho for produzido numa das regiões acima citadas, já sabemos que tem boas condições para ser feito. Escolhemos a seguir o tipo – para tal usamos uma regra básica: branco e espumantes para saladas, pratos frios e carnes brancas, tinto para os molhos vermelhos e carnes, rosado para aperitivo e carnes frias e os fortificados para sobremesa (esta é uma regra, com muitas exceções, mas para descomplicar vale a pena).

O tipo de uva é normalmente encontrado no rótulo, alguns produtores o colocam no contra-rotulo e alguns não colocam. No entanto, muitos vinhos têm e muitos produtores que não indicavam a uva (ou as uvas) estão passando a fazê-lo.

Quanto a escolha da uva, aqui a regra é pelo peso, ou seja as uvas que apresentarei é a parte mais representativa, das mais de 2000 variedades encontradas, pela ordem das que dão mais corpo às que dão menos corpo ao vinho:

Tintos: Cabernet Sauvignon, Merlot, Carmenérè, Malbec, Cabernet Franc, Pinot Noir, Sangiovese, Syrah (shiraz) e Gamay (Beaujolais)Brancos: Chardonnay, Sauvignon Blanc, Semillon e Riesling. A graduação ou teor alcoólico: varia entre 9 a 14 graus (exceção aos fortificados – em torno de 20), quanto mais alcoólico, mais encorpado e maior é seu tempo de guarda.

Quanto a safra, tomemos alguma atenção: os vinhos tintos, devido a sua composição, são os que mais tem condições para envelhecer, no entanto a maioria dos vinhos que encontramos são feitos para serem bebidos jovens, na média entre 02 e 05 anos. Os brancos e os rosados, também devem ser consumidos jovens entre um e 03 anos, os espumantes o mais rápido possível e os fortificados, a maioria a venda pode ser consumido a qualquer momento.

Um dos fatores mais importantes realmente é o preço, normalmente ele é um indicativo de qualidade e potencial de envelhecimento, quanto mais caro maior essa relação.

Resumindo se juntarmos estes ingredientes temos plenas condições de fazer uma boa escolha: e se soubermos quanto temos para gastar iniciamos um caminho ao contrário, com grandes chances de acertar.

Voltando aos 20%, aqui reside o maior segredo a ser revelado: O vinho é uma bebida mundialmente conhecida como a da celebração da amizade, ninguém faria isso se por traz de tudo isso não existisse seu componente mais importante: O prazer!!!

Portanto não perca mais tempo, se arrisque faça como quiser, combine o que tiver, mas jamais se renda, viva com prazer!

(*) Psicólogo, ator e autor teatral. Especialista em vinhos, consultor nacional e internacional (atualmente à frente da Beale Bebidas). Palestrante e apresentador de seu programa Descomplicando o Vinho.

Postar um comentário

0 Comentários