VQP - VALE QUANTO PAGA

 Há uma diferença muito interessante entre a degustação do enófilo, a do técnico e a comercial.

degustação técnica em concurso de vinhos

No primeiro caso o amante do vinho está ali para saborear ao máximo aquela experiência, habitualmente monta uma mesa com acepipes, usa as taças mais indicadas, reúne amigos, enfim é um evento e o vinho será apreciado como a grande estrela. Já a degustação técnica implica em observar o vinho em toda sua tipicidade, perceber seu acabamento, provar e encontrar o que se espera de um vinho no que diz respeito a qualidade, essas degustações podem ser às cegas ou não. 

A terceira degustação é a que fazemos quando estamos escolhendo produtos quer serão importados, colocados em cartas de restaurantes ou em lojas. Essas degustações precisam responder tecnicamente sobre o produto, mas o mais importante é saber se o vinho entrega satisfação ao consumidor e principalmente se o preço tem mercado. 

É muito comum encontrarmos vinhos que ficam nas prateleiras ou encostados em restaurantes, os famosos produtos sem saída ou sem giro (comercial). Muitas vezes o vinho é muito bom, porém seu valor não é compatível com a satisfação, isso ocorre pois a degustação comercial não foi competente ou sensível para entender que posicionamento esse vinho teria, quem seriam seus competidores ou até se o consumidor está preparado para eles. Quando nos aprofundamos nessa história acabamos descobrindo que foi um gosto pessoal, alguém que se encantou com o vinho, uma escolha apaixonada. Poderia funcionar se fosse apenas uma compra para seu próprio prazer, mas não um negócio.

Curioso é que negócio em sua etimologia quer dizer negar o ócio, negar o prazer, no negócio não haveria espaço para o prazer, é um ato, um trabalho que visa vantagem financeira, por isso nesse mundo temos que ser imparciais.

A degustação técnica nos dá esse caminho, particularmente tenho alguns vinhos que aprecio quando estou realizando um júri ou uma avaliação especifica, habitualmente deixo ele de lado e quando termino meu trabalho continuo com a taça pelo prazer e olha que nem sempre é um dos vinhos que o corpo de jurados os coloca como consenso, as notas podem até ser parecidas, mas nem sempre o gosto bate, o que significa que é absolutamente pessoal.

Quando aliamos a técnica com a expertise de mercado encontramos vinhos com belo apelo comercial, seja na sua embalagem, seu prazer no paladar, aromas e cores e claro o preço. O produto passa a se destacar e ganhar giro.  É o caso do Rosé Piscine, uma aposta improvável, mas com muita história para contar, apelo visual, ineditismo e paladar acertado. Outros vinhos apresentam ainda mais, caso recente do Georges Mingret Chardonnay, que entrega muito pelo preço que custa. Para esses vinhos, já há algum tempo, batizei de VQP (Vale Quanto Paga). 

O conceito de VQP era para mostrar que seu preço estava adequado, o que evolui e passei a aplicar para vinhos que nos dão a sensação de serem mais caros que efetivamente pagamos.
Não se trata de custo e beneficio, pois esse conceito (popularmente) se aplica a vinhos baratos, e o VQP não é sobre preço é sobre valor. 

Há alguns anos comprei um vinho argentino à R$ 5,99 (hoje custa cerca de R$ 25), o Marques de La Colina (veja o artigo), produzido pela gigante FECOVITA, obviamente nesse preço não encontrei um vinho premium, porém a experiencia, o nível de satisfação, superou e muito o preço, por outro lado o Quebrada de Ihuanco, por cerca de R$ 360 me deu a sensação que se custasse o dobro estaria bem pago, pois é um vinho peruano muito especial, por sua complexidade, seus sabores, simplesmente fantástico. 

Um vinho VQP é para ser compartilhado e a dica espalhada!






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