Personalidades: Brasil

Atendendo a uma sugestão de um leitor resolvi abordar o tema do vinho no Brasil, ou melhor, o vinho brasileiro.

A história vitivinícola no Brasil é semelhante ao dos nossos vizinhos Chile, Argentina, Uruguai que também é semelhante aos países que compõem o novo mundo do vinho (EUA, África do Sul, Austrália e Nova Zelândia)

No Brasil o vinho chega em 1532, com Martim Afonso de Souza, vindo da Ilha dos Açores, aportou na Capitania de São Vicente, trazendo consigo as primeiras videiras que deram início à nossa vitivinicultura. Nessa mesma época, um fidalgo português da cidade do Porto, Brás Cubas, chegava aos Brasil, para, com Martim Afonso de Souza, dar início à cultura da vinha.

Inicialmente, plantou-se a vinha no litoral paulista (mais precisamente em Cubatão), mas, pelas condições climáticas e solo inadequados, foi logo transferida para os arredores de Tatuapé e o planalto de Piratininga.

Do Estado de São Paulo, a vinha propagou-se por quase todos os estados brasileiros com a finalidade de elaboração de bons vinhos; no entanto, esse objetivo só foi alcançado com o desenvolvimento da vitivinicultura no Rio Grande do Sul, pelo jesuíta Roque Gonzalez de Santa Cruz, em 1626, nas regiões dos Sete Povos das Missões – Santo Ângelo, São João, São Miguel, São Lourenço, São Luiz, São Nicolau e São Borja – que mais tarde foram destruídas pelos portugueses.

A partir dessa experiência, a cultura vitivinícola no Brasil praticamente cessou, até que, em 1870, com a chegada dos imigrantes italianos, recomeçou-se o plantio de videiras na serra gaúcha, onde se produz até hoje quase todo o vinho brasileiro de qualidade.


As videiras usadas inicialmente eram as “vitis viníferas” portuguesas, espanholas, francesas, alemãs e italianas. As videiras americanas vieram em 1839 e estabeleceram-se com predominância verificada até os nossos dias. Dentre as variedades americanas, destacamos a casta Isabel que ocupa hoje perto de 80% dos parreirais de sua variedade.

Atualmente o Brasil dispõe de produção do vinho também no Vale do São Francisco, na região de Petrolina no Pernambuco, basicamente produzindo a partir das uvas Syrah e Moscatel; produz também no Sul de Minas Gerais, em Andradas (aliás, uma das mais antigas regiões produtoras no Brasil, e chegou a produzir uma variedade como a do vinho Madeira), no Paraná e em Santa Catarina, essas últimas e mais recentes investiram amplo capital e já produzem um vinho com qualidade e espaço no cenário nacional. Vale ressaltar que todas as regiões acima produzem cerca de 20% do total de vinho fino do Brasil, no ano de 2007.
Curiosidade: Por mais incrível que possa parecer a capital de São Paulo foi a primeira região que produziu vinho em escala. Isso aconteceu nos idos de 1550, no atual bairro do Brás, chamado na época de Várzea do Tamanduateí. O primeiro vinhedo de produção contínua no Brasil se localizava onde hoje é a estação do Brás, da antiga Central do Brasil, no início da Avenida Rangel Pestana.
O momento histórico da utilização do vinho foi a missa que marcou a conclusão do Colégio de São Paulo, em 25 de janeiro de 1554, pelo padre Manuel da Nóbrega.
Atualidade: Os vinhos brasileiros têm melhorado sensivelmente nas últimas décadas, principalmente pela maior procura por parte do consumidor. Foi com a volta da cultura das videiras do tipo “vitis viníferas”, a partir de 1930, que a vitivinicultura brasileira começou a evoluir qualitativamente.

A Companhia Vinícola Riograndense foi a primeira a produzir vinhos finos com as uvas “vitis viníferas”, nos vinhedos chamados Granja União – Flores da Cunha.
Após essa fase, a vitivinicultura evoluiu muito pouco até 1960, pela facilidade na importação de vinhos estrangeiros e pela falta de incentivos governamentais.

Depois de 1970, os vinhos nacionais melhoraram muito, através da instalação das empresas multinacionais ligadas ao ramo que, por terem maior marketing, maior capital e darem incentivo aos produtores para o cultivo de uvas do tipo “vitis viníferas”, conseguiram dar um grande passo no aperfeiçoamento do vinho brasileiro.

Outro elemento que influiu na melhoria dos vinhos brasileiros foi a introdução na vitivinicultura, por volta do final da década de 90, da chamada Região da Campana, situada nos municípios de Santana do Livramento, Bagé, Pinheiro Machado e em outros, na fronteira com o Uruguai.Essa região, comprovadamente, tem melhores condições para produzir vinhos finos do que a Região Serrana, por ter o clima mais seco, menor o índice pluviométrico no verão e o solo menos ácido e com melhor drenagem.

A vitivinicultura brasileira, hoje, ao contrário das décadas anteriores, começa a impor respeito no mercado internacional, a ponto de exportarmos vinhos para diversos países do mundo.

Há 20 anos, nosso vinho era tido pelos estrangeiros como um suco de uva azedo, com cheiro “foxé” (“de raposa molhada”) e hoje já produzimos vinhos finos, que poderão competir com muitos estrangeiros de maior reputação.

A previsão para um futuro próximo é de melhoria acentuada e de maior imposição no mercado nacional e internacional.

Situação do consumo no Brasil: A produção e o consumo de vinhos no Brasil ainda são bastante reduzidos, se foram levadas em consideração a superfície e a população do país. No entanto, percebe-se que, nos últimos anos, tem havido um grande avanço no consumo e na qualidade dos nossos vinhos.

Segundo dados da OIV – Office International de la Vigne et du Vin – França, e EMBRAPA, o Brasil, tem-se situado, nos últimos anos, entre os vinte e cinco maiores países produtores de vinho no mundo, no entanto ainda somos dependentes de produtos importados, cerca de 75% do vinho fino consumido no país vem de fora, principalmente e nesta ordem de Chile, Argentina, Itália, Portugal, França e Espanha, sendo em torno de 50% a participação dos dois primeiros.

Note que a situação dos vinhos brasileiros os coloca em uma situação desfavorável, porém dá sinais de grandes possibilidades de crescimento e evolução, no entanto acredito que deveríamos seguir firmemente nossa vocação, produzindo aquilo que fazemos melhor e aí explorar a imagem de um país que é um dos melhores produtores de espumantes no planeta. No caso dos vinhos tintos já sabemos que nossa uva é a “Merlot”, mas é realmente nos brancos que conseguimos grandes êxitos e competitividade. Talvez um bom caminho seja produzir tintos com grande caráter, sem se preocupar com posicionamento de mercado e assim ir ganhando corpo. Essa é a estratégia que percebo na Salton, Miolo e nos meus preferidos Lidio Carraro, sem esquecer dos vinhos de altitude de Santa Catarina e alguns pequenos produtores da serra e da campana gaúcha.

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